segunda-feira, 16 de julho de 2012

Aumento da importação de energia e a história da energia hídrica em Portugal

Com o decorrer do ano têm "saído" sucessivas notícias referentes ao aumento da importação de energia em relação a 2011, chegando-se a falar de aumentos de 150% (fonte) devido aos baixos níveis de precipitação que se têm observado.

Através destas notícias, é visível a relevância desta fonte de energia para Portugal (chega a ser 30% do total de electricidade produzida). Como tal, considero ser útil terem-se algumas luzes sobre a história desta fonte de energia no nosso país:

"A utilização da hidroelectricidade em Portugal tem uma longa história, que ultrapassa já 100 anos. De acordo com a informação disponível, a mais antiga central hidroeléctrica em Portugal foi instalada (…) em 1894, com uma potência de 120 kW(…)."1

 
"Meados do século XX: O crescimento económico do país dependia da prossecução de uma política de electrificação nacional, que por sua vez se encontrava condicionada à utilização de uma fonte energética abundante e barata. (…) a utilização do carvão inglês como principal matéria-prima energética, implicava riscos consideráveis em termos de segurança de abastecimento e estabilidade da Balança de Pagamentos.

Ora, em 1944, predominavam ainda, as centrais térmicas a carvão, responsáveis por cerca de 60% da electricidade produzida. Das 8 empresas com mais de 10 MW de potência instalada, apenas 2 eram hidráulicas.Tendo Portugal um conjunto de Rios com enorme potencial energético para a produção de hidroelectricidade (…). E como a iniciativa privada não tinha capacidade de financiamento nem interesse público para realizar tal tarefa, o governo via aqui uma oportunidade para dotar o país de importantes infra-estruturas hidroeléctricas (…).

O ano de 1944 constituiu o grande ponto de viragem na política de electrificação nacional, pela promulgação da Lei n.º 2002 de 26/12/1944, mais conhecida como “Lei da Electrificação Nacional”. Com essa lei o Estado (…). Em primeiro lugar, determinava-se que a produção de energia eléctrica deveria ser obtida através da energia dos nossos rios, reservando-se para as centrais térmicas uma função de apoio (…)."2

"Até 1950, a evolução da potência hídrica instalada em Portugal (que totalizava 153 MW (…)) verificou-se sobretudo à custa da instalação de um grande número de centrais de pequena dimensão. De um total de 113 então existentes, destacavam-se apenas sete com mais de 5 MW, com evidência para as do Lindoso (57 MW) e de Santa Luzia (21 MW)."1

"(…) O Governo assumia um papel fundamental na instalação de novas centrais hidroeléctricas, através da concessão de créditos, isenções de importações de máquinas e utensílios necessários e pela participação no capital dessas empresas produtoras (…)"2

"A partir de 1950 (…) intensificou-se de forma decisiva a construção de novos centros produtores hídricos de grande dimensão nos principais cursos de água portugueses."1 "Os primeiros aproveitamentos hidroeléctricos inaugurados neste período, Castelo de Bode (1951) e Venda Nova (1951), constituíram um desafio para os engenheiros portugueses, apenas habituados a construções de pequena e média dimensão, do tipo gravidade, em aterro, e com alturas pequenas. (…)pelo que se teve de recorrer a André Coyne, um engenheiro francês, para a elaboração destes projectos, que com a sua experiência formou muitos engenheiros portugueses na construção de barragens de grande porte.

A construção das centrais referidas (…) levou a que em 1961 a conjuntura energética do país fosse bastante diferente à verificada em 1944. De 292 MW de potência instalada em 1944, havia-se passado para 1470,8 MW em 1961, tendo a potência hidroeléctrica crescido numa ordem de grandeza de 11 vezes durante este período. Em 1961, 8 das 10 empresas com mais potência eram de origem hidráulica (…).

O sistema eléctrico nacional ganhava dimensão (…)e autonomia através da aposta em recursos energéticos próprios. Por outro lado, o investimento na electrificação hidráulica permitira o desenvolvimento das regiões do interior, onde se realizaram a maioria dos aproveitamentos (…). "2

"(…) (no final de 2005), a potência hidroeléctrica instalada em Portugal Continental é de 4910 MW (cerca de 39 % do total do sistema produtor), sendo 4580 MW em 35 aproveitamentos com potência superior a 10 MW (…) e os restantes 330 MW em 311 aproveitamentos com potência até 10 MW (…).

(…)a forma como evoluiu (…) a potência total instalada no sistema produtor, reflectindo a expansão ocorrida desde 1960, imposta pelo ritmo do aumento de consumos, e revelando, em particular, a progressiva perda de importância relativa da parcela hidroeléctrica em relação às restantes centrais (Fig.2)."1


2 - A electricificação nacional, por Sofia Teives Henriques (formada no ISEG e agora na Universidade de Lund, Suécia)

1 comentário:

  1. Sei que isto já foi publicado há algum tempo, mas só agora tive oportunidade de ler.
    É só para referir que deverias ter-te focado no que está "para vir", com os novos aproveitamentos e com a conversão de alguns dos antigos aproveitamentos em "reversíveis".

    Força aí com este projecto!

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